o projeto 1000 casas vem sendo pensado a muito tempo. Surgiu da necessidade de conhecer o lugar dirceu e as pessoas daquele lugar. Eu confesso que sentia o desejo de ser convidado pelas pessoas para ir as suas casas, um habito que na europa significa mais do que uma visita corriqueira, vem a significar um licensiamento, uma atribuicao de direito sobre certa privacidade, o acesso permitido a uma pessoalidade.

Essa linha entre o privado e o publico, entre as diferentes perspectivas do que seja publico e privado, vem sendo destrinchado pela arte ja faz muito tempo. Comecei a pensar em como deslocar o espaco cenico do palco do entao teatro onde eu era “foncionario”, para a casa das pessoas, no sentido de estabelecer algo mais palpável que pudesse me orientar na busca por um contato mais direto com elas atraves do meu trabalho.

Entao a logica nao era a principio a de teatro a domicilio e nem a de site-specific. seria um corte mais delineado (me referindo a corte de carne) nessa relacao artista >< espectador, quase como se o convivio viesse a produzir um certo tipo de performatividade, uma condicao performatica especifica gerada ali com e durante a acao e que poderia vir a ser traduzida, recontextualizada, e articulada tambem em outros ambitos.

Apesar de pensar no estranhamento e no impacto que tal acao poderia causar no cidadao recebendo isso em sua casa, eu me interessei sempre pelo impacto que isso iria causar no artista criador e/ou performador, e como esse usaria a sua “caixa de ferramentas” e seu “sistema de percepcao” nessa nova condicao de criacao e performance.

|1| Como o artista poderia transitar nessa zona fronteirica, constantemente adequando o corpo e a acao a um outro contexto performatico?

|2| Como as acoes seriam concebidas e desenvolvidas sem um conhecimento previo do lugar performatico?

|3|O que se pode produzir e oferecer como questao artistica na sala, cozinha ou quintal da casa de uma familia?

|4| Como se pode exercitar uma condicao performatica desvinculada de padroes de representacao e/ou execucao e deslocada do seu lugar-comum, mas que ainda opere como performatividade?

O projeto 1000 casas propoem um esquadrinhamento dessa fronteira Publico |X| Privado pela acao de convivio direto: como um embate, um corpo a corpo, um assalto, um furacao, um vento que possa sacudir a poeira, mudar os moveis de lugar e quem sabe ativar de novo o possivel em nos.