Archives for category: nucleo do dirceu

1 paisagem fronteirica com

6 arvores,

1 arbusto

5 trepadeiras

3 cactos

e nenhuma avenca, porque ali as avencas eram desconhecidas.

nao havia mansoes e nem casebres, apenas

6 casas com quintal e jardim e

9 casas em construcao.

Foram chegando

4 espectadores desconfiados

2 questionadores

e 9 curiosos.

nenhum espectador era disciplinado ou estava distraido.

vinham de

3 bairros populosos

4 perifericos

4 independentes

3 bairros animados

1 bairro violento

onde pairava no ceu da cidade

2 nuvens

2 satelites

1 helicoptero

1 nave espacial

e 9 urubus que anunciavam a morte.

E eram ali

2 velhos

7 maduros

1 doente

1 caquetico

e 4 felizes

junto com

3 bonecas de plastico flacidas

5 tesudas

2 envergonhadas

2 satisfeitissimas

e 3 ausentes.

delas

4 tinham olho roxo

4 sangramento na boca

3 estavam de nariz quebrado

4 tinham feridas no corpo mas

nenhuma tinha hematoma no rosto.

Entre os moradores do dirceu nao havia comerciantes.

apenas

1 pastor

1 bandido

10 artistas

e 3 de bem com a  vida.

que tinham

1 tv de plasma

3 passaportes

3 envelopes com dinheiro

3 fotos de familia e

5 cadernos com anotacoes importantes.

6 tomavam vinho tinto

1 fumava cigarro

1 tomava remedio pra dor

7 bebiam agua gelada

e ninguem tomava café forte.

Mas comeram

1 angu de milho

1 angu a bahiana

2 angu de caroco

3 angu light

e 8 angu de menino novo, o tal do gomoso.

Foram chamados

2 motoboys precavidos

2 espertos

1 desconfiado

5 gentis e

5 gostosos

para levar

1 catatonica esquecida

1 prolongada

5 delicadas

4 que vegetavam sem culpa

e 4 que eram uma performance

com

4 geladeiras

3 tvs

8 camas

e nenhuma mesa ou cadeira.

Mas haviam

3 grupos de objetos densos

3 macios

8 sofisticados

1 caro

e nenhum estava sujo.

os espetaculos eram

4 comedias

1 peca cabecao

4 instalacoes coreograficas

4 espetaculos politicos e apenas

1 espetaculo para ser vendido.

feitos por

5 artistas espontaneos

4 interessantes

4 deprimidos

2 geniosos

e nenhum engracado.

1 tinha muito dinheiro

1 tinha dinheiro limpo

2 dinheiro controlado,

3 dinheiro solto e

8 dinheiro investido.

 

E a musica tocaria

1 forro

4 tangos

2 mpbs

3 funks e

5 cancoes de amor

E os animais de estimacao seriam

2 valentes

2 exuberantes

2 independentes

9 companheiros

e nenhum teimoso.

E as Marilyns Monroes viriam

5 frageis

4 sedutoras

3 irritantes

2 poderosas

e apenas

1 sexy

com suas

7 saias

2 paletos

3 sapatos

2 chapeu

1 manto

os brasileiros seriam

1 esperto

1 exotico

3 sedutores

5 desenvolvidos

5 assustados

em

5 dias nublados

5 ventosos

3 quentes

2 ensolarados e

1 nevado sabe-se la como.

E estariam reunidos em

2 cabecas

4 maos

4 coracoes

5 cu

e nenhum “imbigo”.

1 – Se vc fosse uma planta vc seria:

A uma arvore

B um arbusto

C uma trepadeira

D um cacto

E uma avenca

2 – Se vc fosse uma casa vc seria:

A uma mansao

B um casebre

C uma casa gradeada

D uma casa em construcao

E uma casa com quintal e jardim

3 – Se vc fosse um espectador vc seria:

A desconfiado

B distraido

C curioso

D disciplinado

E questionador

4 – Se vc fosse um bairro vc seria

A populoso

B periferico

C violento

D animado

E independente

5 – Se vc estivesse no ceu da cidade vc seria:

A um helicoptero

B uma nuvem

C um urubu

D um satelite

E uma nave espacial

6 – Se vc fosse um angu vc seria:

A angu de caroco

B angu de milho

C angu a baiana

D angu de menino novo

E angu light

7 – Se vc tivesse mais de 70 anos vc seria:

A velho

B maduro

C caquetico

D doente

E feliz

 8 – Se vc fosse uma boneca de plastico vc seria:

A flacida

B tesuda

C envergonhada

D satisfeita

E ausente

9 – Se vc fosse uma marca de agressao fisica vc seria:

A um olho roxo

B uma boca sangrando

C um hematoma no rosto

D um nariz quebrado

E uma ferida no corpo

10 -Se vc morasse no dirceu vc seria:

A bandido

B pastor

C artista

D comerciante

E  de bem com a vida

11 -Se eu tivesse que salvar 1 dos 5 itens qual seria:

A uma TV de plasma

B o passaporte

C um envelope com dinheiro

D uma foto de familia

E um caderno de anotacoes importantes

12 -Se eu tivesse que atravessar o meu corpo com uma substancia esta seria:

A vinho tinto

B fumaca de cigarro

C remedio pra dor

D café forte

E agua gelada

13 – Se vc fosse um animal de estimacao vc seria:

A valente

B teimoso

C exuberante

D companheiro

E independente

14 – se vc fosse um motorboy vc seria:

A precavido

B gostoso

C esperto

D desconfiado

E gentil

15 – se vc fosse catatonica vc seria:

A esquecida

B prolongada

C delicada

D um vegetal sem culpa

E uma performance

16 – Se vc fosse o movel de uma casa vc seria:

A geladeira

B televisao

C cama

D mesa

E cadeira

17 – se vc fosse um grupo de objetos vc seria:

A denso

B sofisticado

C sujo

D macio

E caro

18 – se vc fosse dinheiro vc seria:

A muito

B limpo

C controlado

D solto

E investido

19 – se vc fosse artista vc seria:

A espontaneo

B interessante

C genioso

D engracado

E deprimido

20 – se vc fosse um espetaculo vc seria:

A uma comedia

B uma peca cabecao

C uma instalacao coreografica

D um espetaculo politico

E um espetaculo para ser vendido

21 – se vc fosse a Marilyn Monroe vc seria:

A sexy

B fragil

C poderosa

D sedutora

E irritante

22 – se vc fosse uma peca de roupa vc seria:

A saia

B paleto

C sapato

D chapeu

E manto

23 – se vc fosse um tempo metereologico vc seria:

A nublado

B ensolarado

C ventoso

D quente

E nevado

24 – se vc fosse uma musica vc seria:

A forro

B mpb

C tango

D funk

E cancao de amor

25 – se vc fosse brasileiro vc seria:

A desenvolvido

B exotico

C esperto

D assustado

E sedutor

26 – se vc fosse uma parte do corpo vc seria:

A a cabeca

B o coracao

C o umbigo

D a mao

E o cu

No inicio do processo do 1000 casas propus a metafora de “boiar” para orientar aquele momento. A ideia era boiar como se deixar estar, flutuar suspenso em um espaco de deriva, equilibrar o corpo em uma superficie plana movedica, o corpo tornado leve para dai afundar devagar e horizontalmente. Proponho agora uma simples troca de vogal no verbo, mas com isso uma inversao total no sentido da metafora. “Baiar” no lugar de “boiar”.

Baiar vem de bailar, dancar, saracutiar. Foi dai que veio o “baiao” de luiz Gonzaga e os “bailes” da corte e tambem os conhecidos como “tertulias”. O termo foi popularmente adotado pela umbanda (candomble ou quibanda) para designar o movimento ritualistico dos pais e filhos de santo, e ainda hoje se relaciona fortemente a essa pratica.

A “baiacao” acontece nas praticas rituais mais ou menos assim: um grande circulo e’ formado pelos dancarinos. Normalmente tem musica de tambor, canticos e defumador. Os corpos giram em volta do eixo central do circulo e ao mesmo tempo em volta do proprio eixo. A medida que evoluem com o movimento, os corpos vao expandindo o volume do circulo. Os corpos sao atuados, estao atuados, que e’ como se diz desses corpos em estado de disponibilidade, de abertura a algo que vem de fora (ou de dentro?) e acaba por atravessar e determinar essa condicao especifica.

O baiar e’ o encaminhamento para a incorporacao, e gosto demais dessa ideia se pensada pela raiz literal da palavra. Incorporar e’ tornar corpo, trazer para o corpo o que pode se apoderar dele, sedimentar nele uma acao especifica, torna-lo corpo midiatico, fluxo de feixes de forcas, passagem de correntezas, lugar de alteracao configurado.

Penso ai no momento em que estamos nesse processo de visitar ou assaltar e ainda documentalizar 1000 casas. Baiar no contratempo, para incorporar o desejo e alavancar as vontades. Deixar o corpo suscetivel, aberto e poroso para “receber os santos e o que mais vier”.

Na verdade o que mais me interessa no baiar e’ a condicao de “sair de si mesmo” e “desalojar os egos”. Passar a ser o outro, emprestar o corpo para uma incorporacao que nao e’ da minha certeza, e que esta fora de um controle comum de mim mesmo. E ainda baiar como possibilidade de levantar poeira, sacudir o momento e manter um movimento repetitivo e constante, que tem algo de luta entre mundos, entre o real e o transcendental, e que ao mesmo tempo se da como manifestacao e celebracao desse nosso instante no mundo.

Para os que se perguntam sobre que tipo de pratica adotar agora, proponho o baiar: Sem tambor e sem conga’, sem renda branca ou palha da costa. Apenas com o corpo em circularidade no espaco do galpao do dirceu, em movimento constante e insistente, sem hora pra comecar ou acabar. baiar para entrar em transe e escapar dessa realidade funcional, didatica, institucional e alienada, que parece as vezes assolar a posicao do artista no mundo de hoje.

as imagens sao de Pierre Verger, fotografo frances que viveu no Brasil e se dedicou a fotografar o sincretismo no Brasil e na Africa.


O galpao do dirceu transformado em campo de batalha para bboys e bgirls de todos os cantos. O termo batalha parece nao se aplicar aqui apenas a uma ideia de competicao, de confronto para ver quem e’ melhor. E’ batalha porque a mocada se divide em pequenos grupos e parecem estar numa luta, armados pra lutar, em estado de confronto permanente, mesmo que de forma pacifica e brincalhona, com uma elegancia e um rigor estetico muito particular. no fundo todos conhecem o sentido de estar junto e essa e’ em si a batalha, uma batalha  a favor e nao contra, uma batalha que ao inves de separar, propoem agregar e fortalecer uma luta comum.

Semana passada o sr. reginaldo carvalho, que gentilmente nos empresta o espaco do galpao, sobrevoou a area do dirceu em um helicoptero fazendo planos de ampliacao do seu negocio, o comercial carvalho. Talvez venha a precisar ainda esse ano usar aquele espaco para fins comerciais, que e’ um direito seu, e ai nos estaremos mais uma vez na rua.

Na semana anterior a passada, houve um assalto na rua do galpao e mataram um homem. dois bandidos assaltaram (sem saber) um policial a paisana, que armado feriu um deles e matou o outro, que ficou estendido morto no meio da rua. Aconteceu a 50 metros do galpao no momento em que alguns artistas voltavam pra casa.

O corpo vivo dos bboys e bgirls sao out-doors de mensagens em ingles nesse tipo de lingua do hip hop, que extrapola as gramaticas e as traducoes e sobrevive numa especie de “dinamica corporal interativa aderente”, algo que e’ reconhecido por todos e da a eles um lugar de pertencimento. Os corpos sao arranjos de cores fortes, letras grandes, simbolos, acessorios e combinacoes de tennis-jeans-camiseta muito especificas, o que mostra que existe entre eles uma estetica compartilhada quanto a maneira de se vestir.

A arena retangular branca precisamente simetrica no espaco do galpao. A luz separa a arena demarcada com contorno de tape preto. Os corpos contornam o retangular branco e o sombream de luz.

Os bones sao trazidos para a arena, o ringue, o coliseu. Sao usados como coroas, capuz de profeta, quepe de official. O manto que cobre a cabeca, o louro que a entroniza, na cabeca o simbolo do poder. Os bones nao sao tirados mas deixados cair no meio dos giros no ar, das suspensoes e quedas, e chutados ou dancados pra fora do ringue com partes do corpo. esses bones sao recolhidos pelos companheiros da crew ou por qualquer um, que o recebe e respeitosamente – embora com casualidade – o faz chegar de volta a seu dono. Os bones vao e vem pelo ringue acompanhando a danca daquelas cabecas, e as protegendo nas escorregadas e apoios contra o chao. Tem algo profundo de antropologia ai, nesse passar em volta o bone’, perder por um instante a coroa, e recebe-la de volta pelas maos dos presentes.

O instante e’ instavel baby, sorry to say, lets take that in consideration.

 

 

O duque de Caxias foi um homem importante pro brasil. Com sua forca e lideranca autoritaria mudou rochas de lugar nos confins desse pais novo e indisciplinado e manteve a ordem necessaria a qualquer custo. Virou o patrono do exercito, o heroi das forcas militares de conquista, o simbolo de institucionalizacao do correto, do “como deve ser”. O duque teve seus restos mortais exumados para um mausoleu construido para ele, ganhou cidades com seu nome nos tantos cantos do brasil e continua a assegurar uma ordem imposta, uma logica de bem-aventuranca rigida e ao mesmo tempo inequivocadamente fragil.

A questao aqui e’ a seguinte: o que poderia ter o tal duque e seus argumentos a ver com uma maneira de ser e fazer arte? Como se pode pensar posicionamento artistico e acao propositiva em arte levando em conta uma rigidez Caxias? A logica militar nao estaria completamente oposta aa fruicao em arte?

Soube pelo blog do nucleo que o nucleo do dirceu nao e’ mais um coletivo. Virou ate samba, meio bamba, meio zombeteiro, com uma certa nostalgia feliz de todos os sambas. Ate ai nenhuma novidade, nem mesmo a certeza de que se descobriu isso ali naquele dia. Essa palavra coletivo ganhou uma forca extraordinaria nos ultimos tempos, e vem me incomodando ja faz algum tempo. Nao so porque virou um cliché barato para qualquer ajuntamento de pessoas em torno de algo normalmente nao muito claro, mas porque a palavra passou a soar pra mim como algo impositivo vindo de fora, comprimindo as beiras prum centro, amarrando tudo num monte e aparando o que  sobra para nao sobrar.

O que nao fica dito e’ – se nao e’ mais coletivo – o que vem a ser o nucleo do dirceu? Fala-se em colaboracao e compartilhamento, e essas duas palavras tambem fazem parte da cartilha das intencoes potentes.

Mas como se pode decidir “como” colaborar sem interferir no processo subjetivo (e dai a importancia em) que se da justamente no colaborar?

Eu quero apostar numa d-i-s-p-o-n-i-l-i-d-a-d-e que parte de cada um em direcao a alguma coisa. Disponibilidade com espaco entre as letras, brechas por onde se pode deixar o outro se meter no que nao e’ meu, mas do espaco. Nesse caso, o foco nao seria o proprio desejo (ja que sabemos estar ele muitas vezes entranhado nas garras do egoismo) mas a via desejante. A via desejante que se da como corrente sanguinea descontrolada, o fluxo de um querer quereres, um desejar ja em forma de movimento.

O duque e o sambista, artistas das logicas a serem revigoradas. Reconhecer as capitanias hereditarias e se ver livres delas, e dos seus modelos absolutistas de ordens debilitadas. Acudir o panico geral em combustao espontanea, fechar o cerco a partir do miolo, do olhinho do cu. rodopiar em forca centrifuga espalhando as margens, baiar para incorporar o que a ninguem pertence, o que ja se da compartilhado antes mesmo que qualquer inteligencia Caxias possa lhe atribuir esse nome. Colaborar e’ ser colaborado, estar colaborado, fragmentado numa existencia comum apesar de absolutamente pessoalizada.

e o que e’ isso gente? quem e’ essa shana em chamas? um evento, um meteoro, uma coisa bombastica, misto de mulata com quimera, geni com gabriela, peri-ceci dos cocais de babacu, mae coragem bertoldiana, fedra do sertao, estatua da liberdade na versao de sandra bullock, medeia completamente louca. ela e’ um estopim e eu tenho medo dela. sopra fogo pelas ventas e faz do corpo o lugar habitado de um ser real. hoje ensaiamos no palco no pouco tempo que nos resta antes de apresentar no rio como manifesto no MANIFESTA. Shana em Chamas. ou seria Shamas. ela nao se deixa dirigir, sabe tudo, tem tudo planejado nos minimos detalhes e manda calar a boca pra continuar a cena. incarna no corpo esses personagens que sao sobretudo danças – ou “expressões” como ela chama e eu gosto – alongando cada expressao ao maximo com sutis gestos, caras e posturas corporais que sao quase rituais xamanicos. shana e’ atomo, incendeia e e’ incendiada, uma arvore de natal pegando fogo, um camafeu de diva, retrato do bem e do mal, um monstro aprisionado que se solta no patio: o palco onde ela sabe tao bem pertencer.

como continuar pensando esse corpo fora de si. um corpo ausente de si mesmo, ausente do espaco que o circunda, fora de si. penso que nao deve se tratar so de uma apatia, um estado de dessinteresse generalizado ou uma negacao voluntaria. um corpo fora de si e’ um corpo esvaziado da nocao subjetiva de ser e estar aquele corpo.

a oficina de pensamento convida a artista lygia clark atraves de um texto furiosamente contaminado da suly rolnik. a posicao do artista como lugar fragil e vuneravel para suportar o sentido de tanto ouvir, para permitir a passagem de um feixe de forcas, para ativar os instintos do proprio existir.

o que ainda me desperta curiosidade entre muitas coisas na obra de clark e’ a questao do vazio-pleno, conceito  que se deu para ela na constatacao de que toda forma exterior so faz sentido se nos dermos conta do espaco interior ocupado por ela. qual seria portanto a forma exterior que “sustenta” um determinado espaco (vazio) interior? e quem determina quem em que tipo de relacao estabelecida? e pensar o vazio-pleno como “forma geral de tudo” significa matar o objeto na arte e na vida?

vida nao necessariamente antecede a arte, ou a arte necessariamente complementa a vida. as duas nao acontecem paralelamente em um processo dual de “isso ou aquilo”. nao podemos mais discutir vida e arte como fronteiras borradas ou coisas que se misturam as vezes na minha ideia fixa e legitimada do que seja a realidade. vida e arte acontecem como um processo imbricado, entremeado, complexo e paradoxal, e isso acho que ja vem nos sido dito de muitas formas diferentes.

coca-cola/usa/11 de setembro/tragedia/osama/evacuacao/cagar/mijar/suar/

se refrescar/sede/fome/comida/lula/vontade/vinganca/filme/acao/correr/fotografar/

frame/pedaco/corte/bisturi/sangue/gelatina/edicao/montagem/talco/trabalho/ensaio/

quimico/fisico/musculo/contracao/boi/bull dancing/ai, ai, ai/vovo/elielson/ausencia/doidinha/

fora do ar/fora do sistema/excesso/derramar/avc/neuronio/pensamento/neuronio espelho/

albert einstein/cachorro/latido/urro/passo/pulo/gato/preto/noite/triller/esconderijo/achar/

perdidos/fugidos/fudidos/liso/plano/brasilia/teresina/quente/arida/mandacaru/caju/castanha/

outono/folhas/mortas/renovar/renascer/phoenix/wanden/teatro/cinema/representacao/passo/

falsificacao/pirataria/morro/favela/rio de janeiro/apropriacao/sem terra/ladrao.

 

 

oficina de pensamento, o pau trua. o jogo de associacao de palavras e’ um novelo que se esparrama embaralhado, jorro em forma de apaziguamento com o que vai se construindo desordenadamente, mas com uma logica subjetiva aguda e precisa. unica instancia coletiva da semana , aberta a todos e sem forma definida. “a posicao do artista” tem sido pensada, questionada, provocada como forma de entendimento do que nos propomos a ser, nessa encruzilhada de santo forte e bala perdida.

pinto/exposicao/velhice/morte/adubo/merda/estreia/escola de danca/desconstrucao/confusao/butoh/break/instantaneo/olhar/vigia/binoculo/adaptar-se/fragilidade/estado/buceta/ego/filosofia/peter pal pelbart/ cio (s-i-o)/prazer/encontro/reconfigurar/reino/dança/camuflagem/

photo/layo bulhao

bafo by mirton de paula e esse agosto que vem se consumindo no bafo dos novos ventos e do trabalho que definitivamente nao da tregua. a imagem amplia o que nao se da por inteiro, apenas perfura devagar a fachada da casa branca desbotada com janela de grades. dias mal dormidos e noites insones mas um trabalho que insiste como uma mao colocada na porta na hora de fechar. o lugar de uma utopia cega que esquadrilha o espaco com os sentidos restantes. e teve solos de mulheres e me pergunto o que ainda se pode dizer sobre ser mulher que ainda nao tenha sido dito. repousemos as armas para ouvir a banda quarterao – assim mesmo faltando o i, codigo de identificacao – tocando no espaco do entre o dentro e o fora do galpao. musica entre portas? nao se trata mais de abrir ou fechar mas habitar o entre, fotografado por mil flashes disparados na busca pela razao do instante. e teve a bolha e a rua no outro dia, e esse espaco plastico, meio umbigal, meio sideral, em um movimento geral de tomada e posse, me arrastou pela rua e me trouxe um entendimento peculiar do que seria o entorno, o ambiente com o qual trocamos o ar dos nossos pulmoes. o bafo e’ o dia a dia seguinte e os ensaios puxados pela madrugada. bafo de visita, atraso, surpresa, encontro, conversa, risada, abraço. bafo de questoes que silenciam a mesa e nos deixam encasquetados. bafo de vizinho, criança e pai de crianca, gente assidua e gente que passa, para, olha, pergunta mas ainda nao entra. tem um ceu que se despedaça em cores antes de escurecer, e tem o mavi e o andrez, e réstias de luz dos sucos enigmaticos todas as manhas. e tem ainda os cadernos de ensaio – viagem de volta, parênteses aberto – os emails pra responder, as contas pra pagar, a vida pra pensar se faz sentido, e o trafego transversal e disforme na complexidade dessas mil casas, mil ossos duros de roer .